DONA GRAÇA , CHEIA DE GRAÇA
Quase quarenta anos sem mamãe ! E parece que foi ontem que a vi pela última vez. Era um segundo Domingo de agosto, dia dos pais , quando fomos todos para a usina homenagear seu Abel que vaidoso , nos recebeu com alegria. Havia a recomendação de não levar qualquer problema ou dar trabalho à dona Graça, que estava ainda em observação, por conta de um quase enfarto, há seis meses atrás .
Ela estava feliz por ter voltado pra sua casa e como uma formiguinha que não parava de trabalhar, nos mostrou sua produção de peças de retalhos . Eram almofadas e paninhos artesanais , com o capricho de quem fazia tudo com amor. Porque não podia mais usar a sua velha máquina de costura, passou a fazer tudo à mão.
Passamos um dia maravilhoso ao lado dos nossos pais , sem imaginar que aquele seria o último dia com os dois. No dia 29 do mesmo mês , ela partiria abruptamente, deixando-nos órfãos como se crianças fossemos.
E a nossa vida de sonho no paraíso Usina Trapiche, se encerrava ali.
A dor da perda foi tão grande que nos vimos sem bússola , qual navegantes perdidos no mar de sofrimento. Papai ficou completamente desnorteado e , sem dúvida , começou a morrer também. Fomos surpreendidos pela primeira vez pela morte tão perto de nós e hoje sei que não estávamos preparados para isso. Ninguém nunca está , na verdade, mas nós nunca tínhamos sentido na pele a dor de uma perda tão irreparável.
Eu, especialmente, fiquei muito frustrada por não ter tido oportunidade de lhe dizer que estava grávida do meu quarto filho : a Leila. Fiquei sabendo com certeza da gravidez ,alguns dias antes e como naquela época , não tínhamos a facilidade de comunicação de hoje, ela não pôde curtir a notícia de mais um neto a caminho. Como lamentei !
Mamãe foi uma criatura que adorava ser avó, o quê a enchia de alegria sempre ! Ela e papai tinham verdadeira adoração pelos netos e se encantavam com a presença deles na sua casa. Não precisa dizer que os dois enchiam as crianças de mimos e eu , que tinha os três primeiros, ficava danada quando voltavam pra casa cheios de manha. Até hoje, eles lembram de coisas como os bolinhos que ela fazia com a comida para lhes despertar o apetite. Coisas da dona Graça , que não perdia a chance de agradar.
Mamãe foi a melhor pessoa que conheci na vida. Ela reunia todas as virtudes que uma pessoa pode ter. A sua bondade foi determinante na nossa formação familiar. Apesar da sua aparência frágil, foi com sua fortaleza que soube conduzir tão bem as nossas vidas.
Fico lembrando dela, dos seus bordados , da sua mão maravilhosa no comando das panelas, sempre nos oferecendo comidas deliciosas que não conseguimos esquecer. Penso com meus botões que na época, ela podia ter apenas um limão e certamente fazia dele uma saborosa limonada. Imagino se tivesse os recursos que temos hoje !
Lembro como gostava de receber todo mundo, com sua mesa farta e como se deliciava em ver determinadas pessoas comerem com gosto a sua comida preparada com esmero. Boba era uma , que ela adorava ver comer.
Bons tempos , aqueles em que nos reuníamos na usina ! Era uma verdadeira farra !
Sinto muita saudade de tudo, mas não sofro com as lembranças. Muito pelo contrário, me sinto privilegiada de ter feito parte de uma história muito bonita que foi de todos nós. Gostaria muito que meus filhos guardassem tão boas lembranças da infância deles , mas infelizmente não consegui fazer com que tivessem um mundo tão mágico como o meu . Nem sempre uma história se repete, mas certamente marca para sempre a nossa vida eu sou muito grata a Deus por me ter dado a maior dádiva que um filho pode ter : Pais amorosos e dedicados que com sua generosidade encheram a nossa vida de bênçãos incomparáveis.
Não me canso de render-lhes homenagens. Que Deus os encha de muita luz e felicidade eterna !!!
Graça, 29/08/2012