domingo, 9 de setembro de 2012

         DONA  GRAÇA , CHEIA DE GRAÇA

        Quase  quarenta anos sem mamãe !  E parece que foi ontem que a vi pela última vez. Era um segundo Domingo de agosto, dia dos pais , quando fomos todos para a usina homenagear seu Abel que vaidoso , nos recebeu com alegria. Havia a recomendação de não levar qualquer problema ou dar trabalho à dona Graça, que estava ainda em observação, por conta de um quase enfarto, há seis meses atrás .
          Ela estava feliz por ter voltado pra sua casa e como uma formiguinha que não parava de trabalhar,  nos mostrou  sua produção de peças de retalhos . Eram almofadas e paninhos artesanais , com o capricho de quem fazia tudo com amor.  Porque não podia mais usar a sua velha máquina de costura, passou  a fazer tudo à mão.
          Passamos um dia maravilhoso ao lado dos nossos pais , sem imaginar que aquele seria o último dia com os dois. No dia 29 do mesmo mês , ela partiria  abruptamente, deixando-nos órfãos como se crianças fossemos.
          E a nossa vida de sonho no paraíso  Usina Trapiche, se encerrava ali.
          A dor da perda foi tão grande que nos vimos sem  bússola , qual navegantes perdidos no mar de sofrimento.  Papai ficou completamente desnorteado  e , sem dúvida , começou a morrer também. Fomos  surpreendidos  pela primeira vez pela morte tão perto de nós e hoje sei que não estávamos preparados para isso.  Ninguém nunca está , na verdade, mas nós nunca tínhamos  sentido na pele a dor de uma perda tão irreparável.
         Eu, especialmente, fiquei muito frustrada por não ter tido oportunidade de lhe dizer que estava grávida do meu quarto filho :  a Leila.   Fiquei sabendo com certeza da gravidez ,alguns dias antes e como naquela época , não tínhamos a facilidade de comunicação  de hoje,  ela não pôde curtir a notícia de mais um neto a caminho. Como lamentei  !
         Mamãe foi uma criatura que adorava ser avó,  o quê  a enchia de alegria sempre !  Ela e papai tinham verdadeira adoração pelos netos e se encantavam com a presença deles na sua casa. Não precisa dizer que os dois enchiam as crianças de mimos e eu , que tinha os três primeiros,  ficava danada quando voltavam pra casa cheios de manha.  Até hoje, eles  lembram de coisas  como os bolinhos que ela fazia com a comida para lhes despertar  o apetite. Coisas da dona  Graça , que não perdia a chance de agradar.
         Mamãe foi a melhor pessoa que conheci na vida. Ela reunia todas as virtudes que uma pessoa pode ter.  A sua bondade foi determinante na nossa formação  familiar. Apesar da  sua aparência  frágil, foi com sua fortaleza  que soube  conduzir  tão bem as nossas vidas.
         Fico  lembrando  dela, dos seus bordados , da sua mão maravilhosa no comando das panelas, sempre nos oferecendo comidas deliciosas que não conseguimos esquecer. Penso com meus botões que na época,  ela podia ter apenas um limão e certamente fazia dele uma saborosa limonada. Imagino se tivesse os recursos  que temos hoje !
         Lembro  como gostava de receber todo mundo, com sua mesa farta e como se deliciava em ver determinadas pessoas comerem com gosto a sua comida preparada com esmero. Boba era uma , que ela adorava ver comer.
           Bons tempos , aqueles em que nos reuníamos   na usina !  Era uma verdadeira farra !
           Sinto muita saudade de tudo, mas não sofro com as lembranças. Muito pelo contrário, me sinto privilegiada de ter feito parte de uma história muito  bonita  que foi de todos nós. Gostaria muito que meus filhos guardassem tão boas lembranças da infância deles , mas infelizmente não consegui  fazer com que tivessem um mundo tão mágico como o meu . Nem sempre  uma história se repete, mas certamente marca para sempre a nossa vida eu  sou muito grata a Deus por me ter dado a maior dádiva que um filho pode ter :  Pais amorosos e dedicados que com sua generosidade encheram a nossa vida de bênçãos  incomparáveis.
           Não me canso de render-lhes homenagens. Que Deus os encha de muita luz e felicidade  eterna !!!

Graça, 29/08/2012

2 comentários:

  1. Dona Graça,
    Como sempre acontece quando leio o seu blog, suas palavras me emocionam por demais. Fico encantada com as histórias da sua infância. Fico feliz em saber que a senhora soube aproveitar as bençãos de um lar amoroso.
    Que Deus os abençoe sempre.
    Um abraço,
    Dilti

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  2. Obrigada Dilti!
    Ando preguiçosa para escrever, não por falta de lembranças,mas por estar muito envolvida com meu artesanato para o bazar de Natal do Centro Espírita que frequento.
    Não sou nada organizada e consequentemente, não sei distribuir meu tempo e deixo de lado alguma coisa.
    Um grande abraço.

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