Quando a saudade me “
arrodeia” , as lembranças afloram e eu me dou o direito de esquecer o que sou
hoje, uma mulher em plena “MELHOR IDADE” e ,corro descalça pelas campinas do
meu mundo encantado de criança. A usina Trapiche, surge grande , maior do que era realmente e eu volto
a ser aquela criança que teve a felicidade de ser uma criança de verdade: danada, mentirosa, curiosa , que adorava uma
novidade.
Estou de volta aos
meus oito anos, creio que a fase mais gostosa
da minha infância.
O Natal já tinha passado
e nós nos arrumávamos para ir passar as férias na praia. Papai anunciara que eu
teria uma companheira naquele verão. Ele , no seu trabalho de agrônomo ,
visitava todos os engenhos que forneciam cana para a usina e assim fazia
amizade com muita gente . A minha companheira era filha de um senhor de engenho
e tinha uma equizema na perna. Meu pai
ficou sabendo e como bom “ Médico” que
também se achava, se ofereceu para levar a menina para a praia porque o banho
de mar certamente seria benéfico para ela. Tudo combinado e acertado e eu
estava na maior expectativa para conhecer a tal garota. Fomos para a praia e uns dias depois , papai
levou Maria Clea. Ela chegou meio desconfiada, não conhecia ninguém, mas logo
fizemos amizade e foram umas férias deliciosas. Não lembro se sua perna melhorou,
mas ela se divertiu pra valer. Fizemos todos os programas que me eram
peculiares, como ir ao mangue, pegar caranguejo , andar de perna de pau, ir
muito longe buscar caju e outras coisinhas mais. Com certeza botei a menina no
mau caminho, visto que ela era muito quietinha e educada.
Voltamos da praia e como
ainda tinha uns dias de férias, o pai de Maria Clea me convidou para passar uns
dias no engenho deles. Foi uma ideia brilhante e fiquei num assanhamento só.
Saímos da usina montados
num burro, a menina , o pai e eu. Já era quase noite e fizemos toda a viagem no
escuro. Em cima do lombo de um burro a 1km por hora. Que programão ! Achei o máximo!
Chegando no engenho,
logo percebi que não tinha luz elétrica e a iluminação era à base de candeeiro
de querosene, coisa que eu estava acostumada porque na praia também era
assim. A casa era grande e cheia de
quartos. A mãe dela , uma pessoa carinhosa, me acolheu da melhor forma possível. Lembro muito bem do engenho, de uma lagoa na
frente de casa, dos patos nadando e da irmãzinha da minha amiga, uma garotinha
de uns três anos, muito gorduchinha , com olhos azuis e cabelos cacheados, de
nome Iolanda.
Não havia muito o
que fazer no engenho e nossa maior distração era tomar
banho numa bica, perto da casa. Era uma delícia. Os dias eram curtos e as
noites muito longas, porque como não tinha energia, íamos cedo pra cama, logo
após o jantar. O mais gostoso era o café da manhã : um prato de jerimum (abóbora) com leite
quente tirado na hora, direto da teta da vaquinha. Fui embora com saudades
daquele lugar tão diferente da minha realidade, daquele bucolismo que apesar de
morar numa Usina , no interior, eu não conhecia.
Não lembro de ter encontrado
novamente aquelas pessoas. Nunca mais fiquei sabendo da minha amiguinha Maria
Clea e por um bom tempo quis muito saber dela, do que fez na vida. Hoje ,fico
pensando como as pessoas passam pela nossa vida e marcam a sua passagem. Com
certeza , eu marquei a vida dela porque sei que fui uma ótima professora de
travessuras.
Quanta saudade boa de
um tempo maravilhoso ! Parece que foi ontem que tudo aconteceu e lá se vai mais
de meio Século !!!!
Graça,junho/2012