sexta-feira, 29 de junho de 2012

MARIA CLEA ( Minhas recordações)




                    Quando a saudade me “ arrodeia” , as lembranças afloram e eu me dou o direito de esquecer o que sou hoje, uma mulher em plena “MELHOR IDADE” e ,corro descalça pelas campinas do meu mundo encantado de criança. A usina Trapiche, surge  grande , maior do que era realmente e eu volto a ser aquela criança que teve a felicidade de ser uma criança de verdade:  danada, mentirosa, curiosa , que adorava uma novidade.
                     Estou de volta aos meus  oito anos, creio que a fase mais gostosa da minha infância.
                      O Natal já tinha passado e nós nos arrumávamos para ir passar as férias na praia. Papai anunciara que eu teria uma companheira naquele verão. Ele , no seu trabalho de agrônomo , visitava todos os engenhos que forneciam cana para a usina e assim fazia amizade com muita gente . A minha companheira era filha de um senhor de engenho e tinha uma equizema  na perna. Meu pai ficou sabendo e como bom   “ Médico” que também se achava, se ofereceu para levar a menina para a praia porque o banho de mar certamente seria benéfico para ela. Tudo combinado e acertado e eu estava na maior expectativa para conhecer a tal garota.  Fomos para a praia e uns dias depois , papai levou Maria Clea. Ela chegou meio desconfiada, não conhecia ninguém, mas logo fizemos amizade e foram umas férias deliciosas. Não lembro se sua perna melhorou, mas ela se divertiu pra valer. Fizemos todos os programas que me eram peculiares, como ir ao mangue, pegar caranguejo , andar de perna de pau, ir muito longe buscar caju e outras coisinhas mais. Com certeza botei a menina no mau caminho, visto que ela era muito quietinha e  educada.
                     Voltamos da praia e como ainda tinha uns dias de férias, o pai de Maria Clea me convidou para passar uns dias no engenho deles. Foi uma ideia brilhante e fiquei num assanhamento só.
                      Saímos da usina montados num burro, a menina , o pai e eu. Já era quase noite e fizemos toda a viagem no escuro. Em cima do lombo de um burro a 1km por hora. Que programão !  Achei o máximo!
                       Chegando no engenho, logo percebi que não tinha luz elétrica e a iluminação era à base de candeeiro de querosene, coisa que eu estava acostumada porque na praia também era assim.  A casa era grande e cheia de quartos. A mãe dela , uma pessoa carinhosa, me acolheu da melhor forma possível.  Lembro muito bem do engenho, de uma lagoa na frente de casa, dos patos nadando e da irmãzinha da minha amiga, uma garotinha de uns três anos, muito gorduchinha , com olhos azuis e cabelos cacheados, de nome Iolanda.
                       Não havia  muito  o   que fazer  no engenho e nossa maior distração era tomar banho numa bica, perto da casa. Era uma delícia. Os dias eram curtos e as noites muito longas, porque como não tinha energia, íamos cedo pra cama, logo após o jantar. O mais gostoso era o café da manhã :  um prato de jerimum (abóbora) com leite quente tirado na hora, direto da teta da vaquinha. Fui embora com saudades daquele lugar tão diferente da minha realidade, daquele bucolismo que apesar de morar numa Usina , no interior, eu não conhecia.
                         Não lembro de ter encontrado novamente aquelas pessoas. Nunca mais fiquei sabendo da minha amiguinha Maria Clea e por um bom tempo quis muito saber dela, do que fez na vida. Hoje ,fico pensando como as pessoas passam pela nossa vida e marcam a sua passagem. Com certeza , eu marquei a vida dela porque sei que fui uma ótima professora de travessuras.
                         Quanta saudade boa de um tempo maravilhoso ! Parece que foi ontem que tudo aconteceu e lá se vai mais de meio Século !!!!

Graça,junho/2012

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