segunda-feira, 2 de julho de 2012

POBREMA X POBLEMA


                    POBREMA  x  POBLEMA


                    A nossa vida é normalmente cheia de novidades e o bacana de tudo é exatamente não saber o que vai acontecer daqui a poucos minutos. As esquinas são tantas e tão surpreendentes que temos que ter cuidado ao virá-las porque não sabemos o que nos espera. Às vezes, estamos alegres , dispostos, achando tudo maravilhoso e de repente um telefonema , uma resposta mal humorada , uma mudança de tempo, nos tira do sério e modifica por completo o nosso estado de espírito.  Deixamo-nos levar por fatores externos pequenos , insignificantes e perdemos nosso controle.
                    Eu sempre me surpreendo com as coisas do dia a dia , que acontecem ao nosso lado e como uma coruja que tudo observa presto uma atenção enorme  no que as pessoas fazem e dizem e muitas vezes me divirto. Aprendi a fazer de cada situação uma lição e  aproveitar as chances de adaptação,  para ser mais flexível e exigir menos de mim e da vida, sem perder o direito de estar bem.
                    Tive oportunidade de viver uma experiência muito interessante , quando morei no Rio. Eu morava em Niterói , mais precisamente em Icaraí, um lugar privilegiado, perto da praia perto de tudo. Só que o meu trabalho era no Rio , num subúrbio perto de Caxias e eu tinha que diariamente fazer um percurso enorme , pegando normalmente três conduções prá ir e pra voltar. Eu saía de casa às 5:00 da matina e só não levava marmita. A primeira condução era um ônibus que me levava até as barcas para atravessar a baia. Já na Praça Quinze, pegava a terceira condução, um ônibus que percorria toda a Av. Brasil , como se fosse um BATMÓVEL.  Claro que apesar da velocidade do mesmo , nunca consegui chegar ao trabalho na hora certa.
                    Essa aventura , nova na minha vida, nunca me tirou do sério. Eu curtia cada conversa, cada comentário. O motorista do ônibus como bom carioca era sempre muito falante e irreverente. Quando via uma mulher “ mais gostosa”, colocava a cabeça pra fora e aos gritos dizia coisas do tipo :  “ Cuidado com o jacaré!”, “Quero você lá em casa!”  Ninguém se aborrecia, a mulher seguia seu caminho rebolando a bunda e  os passageiros do ônibus davam risadas.  Parecia que as pessoas estavam abertas pra esse tipo de descontração. E assim, aconteciam coisas realmente surrealistas. Nunca me senti agredida, nunca me senti discriminada por ser nordestina, coisa que sempre fiz questão de não esconder.
                     Hoje vivo em São Paulo, essa  Metrópole  austera , onde as pessoas de todos os lugares do mundo correm sem parar e não tem muito tempo de observar o que acontece ao seu redor. Aqui também, continuo falando meu PERNAMBUQUÊS fluente e ouço muito as pessoas dizerem que adoram o meu sotaque. Deve ser verdade porque o que mais tem nessa terra é nordestino. É raro pra mim , pegar uma condução coletiva, mesmo  porque moro fora do perímetro urbano e não trabalho fora, mas adoro fazer isso e ficar atenta ao que as pessoas falam. É muito engraçado ouvir coisas diferentes e perceber a filosofia de vida de cada um . Adoro andar de ônibus e de metrô, adoro observar o jeito de vestir de  cada um com seu estilo “ NADA A VER” e  a coisa que mais me impressiona , são as  “ PERUAS” que andam pela calçadas  irregulares com seus saltos altíssimos , como se estivessem num salão de festas. Fico pensando como conseguem usar muitas vezes o mesmo sapato. Eu não conseguiria!  Outra coisa que acho muito interessante nas ruas de São Paulo é a classe médica ( da saúde)  fazer questão de usar o seu  avental, jaleco  branco ,como se isso servisse para diferenciá-la das demais, quando sabemos que o jaleco  é exatamente prá evitar a contaminação da rua dentro do hospital ou consultório. Mas em SAMPA , essa moda pega.
                       O vocabulário é  outro detalhe muito interessante e pela diversidade de nacionalidades e regiões da população, ouvimos coisas realmente inacreditáveis.  Os verbos tem suas conjugações destruídas, derrubadas e alguns termos usados são totalmente dignos das” BUZINADAS  DO  CHACRINHA”.  Nesse aspecto , tenho uma história contada por  Marize , uma amiga da Silvia, minha filha, que faço questão de divulgar por ser de uma criatividade sui generis .  Ela estava num transporte coletivo, se dirigindo para o trabalho e ao seu lado , estavam duas  mulheres que aí se encontraram e começaram a conversar. Após os cumprimentos : como vai? Como vão as coisas?  -  Uma delas falou : -  Pois é  menina eu tou cheia  de POBREMAS, e em seguida complementou  -  Não  sei se  o certo  é  dizer  POBREMA  ou  POBLEMA.                                                                                                                       A outra pensou um pouco e com muita  convicção e autoridade falou : -  O negócio é o seguinte :  Quando é  meu,  “ É  POBREMA, “  quando é dos outros, “  É  POBLEMA”.            E assim , surgiu uma regra de português muito  complexa  e  difícil, porque eu por exemplo,nunca sei se estou com  um POBREMA   ou  POBLEMA  !!!!!
                      Na  verdade  eu  FAZERIA  qualquer negócio pra PONHAR o meu POBREMA na  cabeça de quem gosta de um  POBLEMA !!!!!
Graça, junho/2012

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