POBREMA x
POBLEMA
A nossa vida é normalmente cheia
de novidades e o bacana de tudo é exatamente não saber o que vai acontecer daqui
a poucos minutos. As esquinas são tantas e tão surpreendentes que temos que ter
cuidado ao virá-las porque não sabemos o que nos espera. Às vezes, estamos
alegres , dispostos, achando tudo maravilhoso e de repente um telefonema , uma
resposta mal humorada , uma mudança de tempo, nos tira do sério e modifica por
completo o nosso estado de espírito.
Deixamo-nos levar por fatores externos pequenos , insignificantes e
perdemos nosso controle.
Eu sempre me surpreendo com
as coisas do dia a dia , que acontecem ao nosso lado e como uma coruja que tudo
observa presto uma atenção enorme no que
as pessoas fazem e dizem e muitas vezes me divirto. Aprendi a fazer de cada
situação uma lição e aproveitar as
chances de adaptação, para ser mais flexível
e exigir menos de mim e da vida, sem perder o direito de estar bem.
Tive oportunidade de viver uma
experiência muito interessante , quando morei no Rio. Eu morava em Niterói ,
mais precisamente em Icaraí, um lugar privilegiado, perto da praia perto de
tudo. Só que o meu trabalho era no Rio , num subúrbio perto de Caxias e eu tinha
que diariamente fazer um percurso enorme , pegando normalmente três conduções
prá ir e pra voltar. Eu saía de casa às 5:00 da matina e só não levava marmita.
A primeira condução era um ônibus que me levava até as barcas para atravessar a
baia. Já na Praça Quinze, pegava a terceira condução, um ônibus que percorria
toda a Av. Brasil , como se fosse um BATMÓVEL.
Claro que apesar da velocidade do mesmo , nunca consegui chegar ao
trabalho na hora certa.
Essa aventura , nova na
minha vida, nunca me tirou do sério. Eu curtia cada conversa, cada comentário.
O motorista do ônibus como bom carioca era sempre muito falante e irreverente.
Quando via uma mulher “ mais gostosa”, colocava a cabeça pra fora e aos gritos
dizia coisas do tipo : “ Cuidado com o
jacaré!”, “Quero você lá em casa!”
Ninguém se aborrecia, a mulher seguia seu caminho rebolando a bunda
e os passageiros do ônibus davam
risadas. Parecia que as pessoas estavam
abertas pra esse tipo de descontração. E assim, aconteciam coisas realmente surrealistas.
Nunca me senti agredida, nunca me senti discriminada por ser nordestina, coisa
que sempre fiz questão de não esconder.
Hoje vivo em São Paulo, essa Metrópole austera , onde as pessoas de todos os lugares
do mundo correm sem parar e não tem muito tempo de observar o que acontece ao
seu redor. Aqui também, continuo falando meu PERNAMBUQUÊS fluente e ouço muito
as pessoas dizerem que adoram o meu sotaque. Deve ser verdade porque o que mais
tem nessa terra é nordestino. É raro pra mim , pegar uma condução coletiva, mesmo
porque moro fora do perímetro urbano e
não trabalho fora, mas adoro fazer isso e ficar atenta ao que as pessoas falam.
É muito engraçado ouvir coisas diferentes e perceber a filosofia de vida de
cada um . Adoro andar de ônibus e de metrô, adoro observar o jeito de vestir de
cada um com seu estilo “ NADA A VER”
e a coisa que mais me impressiona , são
as “ PERUAS” que andam pela calçadas irregulares com seus saltos altíssimos , como
se estivessem num salão de festas. Fico pensando como conseguem usar muitas
vezes o mesmo sapato. Eu não conseguiria!
Outra coisa que acho muito interessante nas ruas de São Paulo é a classe
médica ( da saúde) fazer questão de usar
o seu avental, jaleco branco ,como se isso servisse para
diferenciá-la das demais, quando sabemos que o jaleco é exatamente prá evitar a contaminação da rua
dentro do hospital ou consultório. Mas em SAMPA , essa moda pega.
O vocabulário é outro detalhe muito interessante e pela
diversidade de nacionalidades e regiões da população, ouvimos coisas realmente
inacreditáveis. Os verbos tem suas
conjugações destruídas, derrubadas e alguns termos usados são totalmente dignos
das” BUZINADAS DO CHACRINHA”.
Nesse aspecto , tenho uma história contada por Marize , uma amiga da Silvia, minha filha,
que faço questão de divulgar por ser de uma criatividade sui generis . Ela estava num transporte coletivo, se
dirigindo para o trabalho e ao seu lado , estavam duas mulheres que aí se encontraram e começaram a
conversar. Após os cumprimentos : como vai? Como vão as coisas? - Uma
delas falou : - Pois é menina eu tou cheia de POBREMAS, e em seguida complementou - Não sei se o certo é dizer
POBREMA ou POBLEMA. A outra pensou
um pouco e com muita convicção e
autoridade falou : - O negócio é o
seguinte : Quando é meu, “
É POBREMA, “ quando é dos outros, “ É
POBLEMA”. E assim ,
surgiu uma regra de português muito
complexa e difícil, porque eu por exemplo,nunca sei se estou
com um POBREMA ou
POBLEMA !!!!!
Na verdade
eu FAZERIA qualquer negócio pra PONHAR o meu POBREMA
na cabeça de quem gosta de um POBLEMA !!!!!
Graça,
junho/2012
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