quinta-feira, 12 de julho de 2012


             MEU “ PSEUDONAMORADO “

             Nada como um dia chuvoso , frio, sem dinheiro no bolso, sem muita perspectiva de pelo menos bater pernas nos Shoppings da vida, aqueles a céu aberto, onde estão todos o camelôs de plantão “ terror da Prefeitura”, meus amigos e sonho de consumo, para ficar em casa e contar histórias.
             A  opção é essa : contar história.
             Hoje , eu vou até os anos 61, 62, quando mocinha, engraçadinha, cheia de sonhos, morava no Derbi, na rua Viscondessa do Livramento, casa da minha tia Mana.  Era um prédio de três andares, chiquérrimo na época e ficava atrás da Faculdade de Odontologia. Na rua da Faculdade , bem na esquina ficava a Casa do Estudante de Pernambuco, um prédio grande , mantido pelo governo, que abrigava os rapazes  universitários que vinham do interior do Estado.
               Para ir ao colégio, eu tinha que necessariamente passar na frente do prédio e fazia isso normalmente sem me preocupar com os assobios e gracinhas que tinha que ouvir. Na verdade, até gostava de ser notada, mas apesar de ser meu caminho diário, não conhecia ninguém de lá.
               No colégio, eu tinha uma amiga que estava de namorico com um estudante de engenharia, que morava na casa do estudante. Como na época , era difícil acesso a telefone e na casa da minha tia tinha um que aliás ainda lembro o número “ 3157” , ela me pediu para ligar para o rapaz de nome  Zadock.  Na casa devia ter muito Zé, Tonho, Chico, mas  Zadock, com certeza , só o próprio.  Tudo bem.  Dispus-me a fazer o favor pedido e ao chegar em casa fiz a ligação. Atendeu uma  voz masculina jovial e educada que me informou que o Zadock não estava e se dispôs a conversar comigo. Batemos um papo descontraído, falamos de estudo e coisa de jovens. Ele me pediu o telefone, eu dei e ficamos de nos falar novamente.
                   No dia seguinte , o moço ligou e conversa vai , conversa vem , ele sabia quem eu era e até me descreveu. Por coincidência , era amigo de uma família, com quem eu me dava muito bem pois era família de uma amiga minha de colégio, com quem eu ia e voltava todo dia.  Por ser amigo desse pessoal conhecido, dei trela ao rapaz e ficamos amigos pelo telefone. Minha amiga ficou toda ouriçada e logo virou cupido na história. Eu sabia tudo dele, ele sabia tudo de mim, mas não nos conhecíamos pessoalmente.
                       Eu costumava ir à missa aos Domingos, na capela da Maternidade do Derbi, que ficava na rua da casa do estudante.
Num Sábado, numa de nossas conversas ,o Misterioso me convidou para irmos ao cinema Boa Vista na sessão de 10;00h. Como eu não o conhecia   e íamos na mesma missa domingueira, combinamos que ele estaria lá e quando eu o olhasse ,  ele iria sorrir pra mim e assim a gente se identificaria. Muito bem. Combinei com minha amiga e a mãe dela ,a ida ao cinema e lá encontraríamos o meu” príncipe”. Na época era assim mesmo:  ir ao cinema, só com duas velas porque eu era uma mocinha de família, coisa e tal.
                       Tudo acertado, saí cedinho de casa para a missa das 7:0h. Claro que não cabia em mim de tanta ansiedade. Afinal, seria o meu primeiro encontro com um rapaz e eu já tinha meus dezessete anos. A produção, naturalmente foi esmerada e lá fui eu, séria como sempre, sem sequer olhar de lado, para o cumprimento da minha obrigação religiosa. Na missa, apesar de muito compenetrada, não prestei mesmo atenção ao ritual. Na minha cabeça, só tinha o pensamento de me virar para trás e dar de cara com o meu  provável futuro namorado. A emoção era muita e havíamos combinado de não nos falarmos nem na igreja , nem  no caminho de casa, pra que os outros rapazes não percebessem. Afinal, seria um motivo para tirarem sarro da cara dele.
                        Fiquei um bom tempo sem ceder ao impulso de olhar para trás. Afinal, eu não podia demonstrar ansiedade. Tinha que ter compostura !!!  -Enfim olhei e dei de cara com um  “Santo Antonio à paisana”, que me abriu um lindo sorriso, ao qual correspondi. Depois fiquei na minha , não olhei mais pra trás e no final da missa fui embora feliz da vida : o cara era um deus grego !!!
                          Com permissão da minha tia, fui ao cinema onde minha amiga e sua mãe estariam à minha espera. E estavam com um rapaz que eu não conhecia. Fizeram-se as apresentações e eu muito sem graça entendi  que aquele era o meu pretendente.  Quase desmaiei, fiquei toda atrapalhada, porque sabia que ele tinha visto o meu engano na igreja. Talvez ele fosse até mais bonito que o outro mas fiquei decepcionada com a minha falta de percepção.  Entramos no cinema, eu , ele e as duas velas , uma de cada lado. Nem conversa aconteceu. Ficamos amigos e sempre estávamos juntos nos eventos como jogos universitários e festinhas na casa  das amigas. Dançávamos muito e todo mundo pensava que éramos namorados, ao ponto de se comentar na família o meu namoro e naturalmente a curiosidade da minha tia em saber quem era, de onde era, a qual família pertencia e o que seria na vida. Só que a despeito de tudo, ele era muito tímido e nunca passamos de bons amigos . Ele nunca me falou de namoro, nunca aconteceu nada e até hoje não sei se foi meu namorado. Só sei que quando apareci com um de verdade, ele desapareceu.  Acho que ele namorava comigo e eu não sabia !!!!
                     Só para complementar : se fosse hoje, com certeza eu não passaria de cabeça baixa pela casa do estudante, não teria ficado tão comportada na missa, não iria ao cinema cheia de velas e acabava com a timidez dele perguntando logo qual era a sua. Os tempos mudaram de verdade  e felizmente eu não parei nele como muitos contemporâneos meus !!!

Graça,julho/2012

Um comentário:

  1. Coitado tia,acho que ele estava tentando tomar coragem,que diferença dos dias de hoje,kkkkkkkkkk

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