SÃO JOÃO
DA USINA TRAPICHE ( Os preparativos )
Há
muito tempo atrás , num lugarzinho
perdido na zona da mata sul do Estado de Pernambuco, vivia uma família muito feliz e eu fazia parte dela, o que me dá o orgulho
de reviver esse tempo, relatando para
todos o que de especial havia lá.
Assim
começam os contos de fadas e a nossa vida na Usina Trapiche foi um conto de
fadas, daqueles em que bruxas não tinham vez porque o amor reinava e a felicidade era nossa grande companheira.
Hoje ,
eu quero relembrar as nossas muitas festas de São João, já que estamos tão perto da data
comemorativa. Volto ao refúgio mágico da
nossa infância e tento restaurar com muito cuidado as imagens
perdidas no tempo. São tantas e tão preciosas ! São um acervo
sem preço, sem substituição,
tombado pelo nosso patrimônio familiar.
Éramos seis crianças normais, peraltas e felizes
, só isso ! Nessa época do ano,
a nossa excitação aumentava e ficávamos
a mil por hora, esperando a festa de São João. Os preparativos começavam poucos
dias antes. Na frente de cada casa era
construída uma fogueira. Digo construída
porque fugia aos padrões normais de tamanho e era uma verdadeira construção de
madeira , a ser queimada na véspera do dia do santo mais comemorado do
Nordeste. Ficávamos acompanhando o
trabalho dos homens que empilhavam as
madeiras, formando as enormes fogueiras que se enfileiravam em toda a rua. Cabia-nos a decoração que era
feita com folhas de coqueiro e algumas
bandeirolas coloridas.
Dentro de casa, em cima do guarda- roupas do
quarto dos nossos pais, havia uma caixa
fechada, que sabíamos se tratar do tesouro de nome
Caramurú. Ali , estavam os fogos
que receberíamos no dia da festa. Papai
os comprava todos os anos e nós já
esperávamos por isso. As músicas
juninas tocavam freneticamente no rádio
e nós aprendíamos todas com a maior facilidade.
O clube da usina promoveria o baile e a
quadrilha era ensaiada com antecedência. Formavam-se os pares e nós dançaríamos a quadrilha. Acontecia de
nem sempre , a dama destinada a um dos meninos, ser a que ele queria e aí tinha choradeira e um grande esforço de mamãe
em fazer o insatisfeito aceitar a sua
parceira. Eu também dançava a quadrilha e como sempre odiava a produção de
mamãe e Lia que prá começar faziam
aqueles cachinhos no meu cabelo , me deixando com cara de “ nega maluca”. Elas
sempre inventavam alguma coisa que eu detestava. Para mim , era suficiente o vestido de matuta (
caipira) e uma pintura na cara, como todo mundo fazia. Mas, não !
As duas sempre queriam inovar e eu era a vítima. Uma vez queriam que eu
usasse as botinas dos meninos e eu não achei graça nisso. Chorei muito, não
queria mais dançar, mas no final eu
sempre pagava o MICO, por obediência. Naquele dia eu me senti
a ridícula das ridículas !
Um dia antes da festa, todo
mundo trabalhava, ajudando mamãe a preparar os quitutes. Tínhamos
que descascar o milho com cuidado para não estragar as palhas , que
seriam usadas para envolver as pamonhas.
As espigas eram cortadas
com uma faca
, debulhando-se todo o milho para fazer a pamonha , canjica e o famoso mingau
de milho verde que papai adorava.
Tínhamos que moer os grãos na máquina de moer carne e ralar o coco para
fazer todas as gostosuras . Dona Graça se esmerava na preparação de tudo
e só nós sabemos como era maravilhoso. Não era trabalho, era pura
diversão e nós adorávamos fazer tudo
aquilo.
Eram os preparativos para a festa que se avizinhava e todos nós contribuíamos . Dona Graça, a essas alturas , já tinha
feito nossas roupas na sua velha máquina de costura e como sempre cantando e
nos envolvendo no clima de felicidade que nunca vamos esquecer. Ela e seu Abel sabiam como nos agradar e sem
dúvidas marcaram prá sempre as nossas vidas, com essa devoção incondicional.
São muitas as lembranças, é imensa a saudade, mas é muito bom ter o que
lembrar e trazer para o presente, as nossas alegrias do passado
Graça, junho /2012
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