quinta-feira, 14 de junho de 2012


        SÃO  JOÃO  DA  USINA  TRAPICHE ( Os preparativos )

               Há muito tempo  atrás , num lugarzinho perdido na zona da mata sul do Estado de Pernambuco,  vivia uma família muito feliz  e eu fazia parte dela, o que me dá o orgulho de reviver esse tempo, relatando  para todos o que de especial  havia  lá.
               Assim começam os contos de fadas e a nossa vida na Usina Trapiche foi um conto de fadas, daqueles em que bruxas não tinham vez porque o amor reinava  e a felicidade era nossa grande companheira.
               Hoje , eu quero relembrar as nossas muitas festas de São João,  já que estamos tão perto da data comemorativa.  Volto ao refúgio mágico da nossa infância e tento  restaurar  com muito cuidado  as imagens  perdidas no tempo. São tantas e tão preciosas !  São um acervo  sem preço, sem  substituição, tombado  pelo nosso patrimônio familiar.
               Éramos  seis  crianças normais, peraltas  e felizes  , só isso !  Nessa época do ano, a  nossa excitação aumentava e ficávamos a mil por hora, esperando a festa de São João. Os preparativos começavam poucos dias antes.  Na frente de cada casa era construída  uma fogueira. Digo construída porque fugia aos padrões normais de tamanho e era uma verdadeira construção de madeira , a ser queimada na véspera do dia do santo mais comemorado do Nordeste.  Ficávamos acompanhando o trabalho  dos homens que empilhavam as madeiras, formando as enormes fogueiras  que se enfileiravam  em toda a rua. Cabia-nos a decoração que era feita com folhas de coqueiro  e algumas bandeirolas coloridas.
                Dentro de casa, em cima do guarda- roupas do quarto dos nossos pais, havia uma caixa  fechada, que sabíamos se tratar do tesouro  de nome  Caramurú. Ali , estavam  os fogos que receberíamos no dia da festa.  Papai os comprava todos os anos  e nós já esperávamos por isso.  As músicas juninas  tocavam freneticamente no rádio e nós aprendíamos todas com a maior facilidade.
                 O clube da usina promoveria o baile e a quadrilha era ensaiada com antecedência. Formavam-se os pares  e nós dançaríamos a quadrilha. Acontecia de nem sempre , a dama destinada a um dos meninos, ser a que ele queria e aí  tinha choradeira e um grande esforço de mamãe em fazer o insatisfeito  aceitar a sua parceira. Eu também dançava a quadrilha e como sempre odiava a produção de mamãe e Lia que prá começar  faziam aqueles cachinhos no meu cabelo , me deixando com cara de “ nega maluca”. Elas sempre inventavam alguma coisa que eu detestava. Para  mim , era suficiente o vestido de matuta ( caipira) e uma pintura na cara, como todo mundo fazia. Mas,  não !  As duas sempre queriam inovar e eu era a vítima. Uma vez queriam que eu usasse as botinas dos meninos e eu não achei graça nisso. Chorei muito, não queria mais  dançar, mas no final eu sempre pagava o MICO, por obediência. Naquele dia eu me  senti  a ridícula das ridículas !
                  Um dia antes da festa, todo mundo trabalhava, ajudando mamãe a preparar os quitutes.  Tínhamos   que descascar o milho com cuidado para não estragar as palhas , que seriam usadas  para envolver as pamonhas. As  espigas  eram  cortadas  com  uma  faca , debulhando-se todo o milho para fazer a pamonha , canjica e o famoso mingau de milho verde que papai adorava.  Tínhamos que moer os grãos na máquina de moer carne e ralar o coco para fazer todas as  gostosuras .  Dona Graça se esmerava na preparação de tudo e  só nós sabemos como era  maravilhoso. Não era trabalho, era pura diversão  e nós adorávamos fazer tudo aquilo.
                      Eram os preparativos para a festa que se avizinhava  e todos nós contribuíamos .    Dona Graça, a essas alturas , já tinha feito nossas roupas na sua velha máquina de costura e como sempre cantando e nos envolvendo no clima de felicidade que nunca vamos esquecer.   Ela e seu Abel sabiam como nos agradar e sem dúvidas marcaram prá sempre as nossas vidas, com essa devoção incondicional.
                      São muitas as lembranças, é imensa a saudade, mas é muito bom ter o que lembrar e trazer para o presente, as nossas alegrias do passado

Graça, junho /2012

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