Toda menina sonha com os quinze anos ! Eu também sonhei com os meus. Fiz planos e construí castelos em cima da data marcante. Na época, era comum uma grande festa com baile, valsa ,etc., etc. Acho que eu sonhava com essas coisas,sim . No dia em que fiz quinze anos, eu estava interna no colégio e recebi a visita de Papai e Mamãe naturalmente, mas não saí. Tia Mana também foi me ver e me levou de presente, um terço de cristal cor de rosa, lindo e maravilhoso. Fiquei muito feliz com o presente. Eram outros tempos realmente !!! Imaginemos hoje, uma mocinha ganhando de presente, um terço de cristal cor de rosa, nos seus quinze anos! Prá um monte delas, seria o cúmulo da breguice ! Outras, nem sequer saberiam prá que serve um terço ! Mas comigo ,que nessa altura do campeonato, queria até ser uma freira, foi perfeito. É, eu era tão apaixonada pelas freiras e tão encantada com sua vida , que eu queria ser uma delas! O negócio era tão sério que escrevi para Papai,dizendo que tinha resolvido a minha vida, que eu queria ser uma salesiana . A resposta foi truculenta, curta e grossa. Ele respondeu minha carta com um bilhete desanimador com as seguintes palavras : - “ Quem você pensa que é prá decidir a sua vida? Quem decide a sua vida sou eu !” Não preciso dizer que a vocação religiosa acabou ali e não se falou mais no assunto. Aliás, a vocação existia, só quando eu estava no colégio, porque eu acho que era mais prá fazer média com as freiras. Quem corria atrás de freira no colégio, era chamada de “LAMBRETA” pelas outras meninas e eu fui a maior lambreta do pedaço. Eu era estudiosa, bem comportada, educada, um exemplo de menina a ponto da freira que administrava o internato, me trocar de lugar no refeitório com freqüência , substituindo alguma encrenqueira e dizia que fazia isso , porque eu era a “ pomba da paz”.
Eu fui uma adolescente tranqüila e muito quietinha. Quando eu ia prá casa, nas férias , esquecia a vocação e ficava normal. Quando eu aprontava, mamãe ameaçava contar para as freiras como eu era na real. Não que eu fizesse nada de mal, só que em casa, eu não queria ajudar e ficava horas no quarto trancada, lendo fotonovela e viajando na maionese. De vez em quando, as brigas com os irmãos e com Lia principalmente, porque ela queria mandar em mim e as malcriações com mamãe eram freqüentes. Ela me chamava de “Santa do páu oco “ !!! Acho que eu tinha dupla personalidade ! Quá...quá ...quá . Será ? Vá ver era uma forma de defesa. Eu me comportava bem no colégio e era paparicada. Era muito bom! Funcionou e eu me dei muito bem. Quem não gostou nada dessa história foi Luiza, quando foi interna, depois de mim. Ela odiava as comparações que faziam comigo e me chamava de fingida. Também não era assim , eu era boazinha de verdade. Luiza , sempre foi muito inteligente e era ótima aluna, só que não era muito estudiosa e era muito moleca. Gostava mesmo era de brincar e jogar e, não parava quieta. Prá ela foi difícil, se submeter às regras do internato.
Voltando ao tema de hoje, fiz aniversário de quinze anos no colégio, mas quando fui prá casa nas férias de julho, mamãe e Lia resolveram fazer uma festa prá mim e organizaram tudo, convidaram todo mundo e até Seu Barros , dono da loja de tecidos em Sirinhaém , foi convidado. Francisquinha, esposa de Jorge, foi escalada prá fazer o meu vestido e deu a idéia do modelo. Compramos o tecido em Sirinhaem e o vestido foi confeccionado. Era um verde esmeralda e o modelo ,o que havia de mais moderno : um balonê, desses que a saia fecha nas pernas que nem um balão.Parecia um vestido desses que se usam atualmente, com o corpo bem modelado e a saia com pregas na cintura e na parte de baixo.
Como complemento , eu usei um sapato preto de salto alto pela primeira vez. Eu me senti um "peixe fora d’água" com aquele traje, mas muito eufórica com a festa. Foi muita gente e mamãe caprichou nos doces e salgados. Minha grande expectativa era a presença do Seu Barros, aliás o presente que ele me levaria. Não deu outra : ganhei todas as marcas de sabonetes e talcos ( daqueles que vinham numa caixa, com esponja), perfumes e alguns biscuits . Tudo de bom !!! Fiquei muito feliz e cansada de andar com o salto alto, tropicando aqui e ali e com a saia prendendo minhas pernas, o que me dificultava o andar. Não teve baile, nem valsa mas de uma certa forma tive meu sonho realizado e minha festa foi maravilhosa, bem nos moldes da época. Tudo bem que a experiência do primeiro salto alto, foi desastrosa , mas foi a primeira vez e assim é.
Eu era uma moça muito pura e sem grandes ambições e ficava feliz com o que me era oferecido. Mamãe e Papai se esmeravam prá dar essa felicidade prá gente e hoje eu só posso agradecer à vida, a oportunidade de tê-los como pais. Minhas saudades são muito verdadeiras e minhas lembranças , a riqueza que guardo com muito AMOR !!!
Graça,março/2012
Dona Graça,
ResponderExcluirAcho muito legal a forma como a senhora lembra da sua infância e da sua juventude. Infelizmente minha memória é muito fraca, não lembro de quase nada.
Já suas memórias, são ricas em detalhes, uma beleza!
A história da nossa vida é muito importante, pois ela contém cada pedacinho da obra em construção.
Como a senhora gosta de escrever contos e poesias, pensei em convida-la para um concurso literário que está tendo num blog que eu sigo.
Entra lá no meu blog e vê se lhe interessa. O link é http://dilti.blogspot.com.br/2012/03/concurso-literario.html
Um abraço,
Dilti