Maio está chegando e me trazendo de volta as recordações de muitos MAIOS da minha infância privilegiada. Viver na Usina Trapiche, aquele lugarzinho cheio de sol e doce aroma do açúcar sendo produzido, foi um dos presentes que Deus me deu na vida. Outros presentes vieram : as pessoas que fizeram e fazem parte da minha existência e que talvez eu não seja merecedora delas. Mas os anos que vivi naquele pedacinho de céu, considero um presente de graça, daqueles que a gente recebe, mesmo sem merecer, o paraíso concedido aos inocentes e puros de coração. Valeu meu Deus ! Foram tão maravilhosos que se transformaram no meu maior tesouro . Hoje, me cabe a obrigação e o prazer de falar dele, mesmo quando o meu coração está triste.
O mês de maio na usina era de muita animação e homenagem à nossa querida Mãe do céu, MARIA de todas as dores , de todos os amores, MARIA de bondade, de socorro,de pureza , MARIA MÃE do nosso JESUS. A devoção de todos e nossa inocência de crianças , com certeza foram muito bem aceitas por Ela.
Quando chegava o mês de maio, cada família da usina recebia uma noite para prestar a sua homenagem à Virgem Maria. Cada uma se incumbia de ornamentar a nossa pequena capela , que era no grupo escolar, para o terço , cantos e orações que seriam feitos à noite. Criava-se um tipo de competição para ver quem fazia mais bonito e o que valia mesmo era a criatividade de cada família. Não tínhamos os recursos da cidade grande, não havia onde comprar flores, a não ser que fossemos buscá-las fora. Só que tínhamos outros recursos : todas as casas tinham jardins e a natureza sempre nos dava as suas flores e plantas. Ficávamos na expectativa de como seria cada noite e nunca ninguém decepcionava. As paqueviras vermelhas, colhidas no mato, os gladíolos, as hortências, rosas , flores do campo, cravos , cravos de defunto, bastões do imperador, rosas e até as flechas de cana, enfeitavam a nossa capelinha , deixando-a sempre festiva. O que me encantava mesmo eram as flechas de cana na decoração e as folhas de eucalipto no chão, fazendo um tapete perfumado. Isto, eu sei que nunca mais vou ver na minha vida, não com o mesmo encanto. Mamãe gostava muito de gladíolos e das flores rosas da sua “mimo do céu”. Ela sempre lançava mão das avencas e samambaias. Cada noiteiro tinha a sua preferência e sempre conseguia um efeito surpreendente. Havia aqueles que iam a Recife buscar flores mais sofisticadas e com certeza conseguiam um efeito diferente.
O mais importante , sem dúvida era a fé e necessidade de cada um em oferecer o seu melhor à nossa MÃE tão querida e abençoada. Isso não tinha preço e transformava o mês de maio em um mês festivo e de encontro diário com todos do lugar. O coro de vozes femininas soltava a garganta e enchia de cantos lindos a nossa capela. Santinhos eram distribuídos pelo dona da festa e tudo era sonho.
É muita saudade no meu coração e muita tristeza em ver que as pessoas perderam essa devoção e essa necessidade em elevar juntas as suas preces e homenagens àquela que significa tanto nas nossas vidas. Lembramos dela sim, na hora do sofrimento, da agonia e ela sempre nos atende e se faz presente, enchendo nossos corações de esperança e conforto.
Crianças que éramos , nessa época, ficávamos realmente encantados e aquele céu azul de papel ou pano, cheio de estrelas de areia prateada, que hoje achamos tão brega, era lindo aos nossos olhos e tudo era brilho, cheiro de flores e velas, muitas velas iluminando as nossas vidas e as nossas almas !!!!
Graça,2012
Pois é Dona Graça, e as crianças de hoje só querem saber de vídeo game, skate, internet, etc. O mundo evoluiu e nós, que estamos inseridos nesta evolução, não temos mais tempo para as singelas atividades familiares, tão comuns ao tempo de nossos pais. É uma pena!! O corre-corre diário não perdoa ninguém.
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