segunda-feira, 21 de maio de 2012

O DIA EM QUE ESQUECI MEU NETO

                     O  DIA  EM  QUE  ESQUECI  MEU  NETO        

                    O alemão que me ronda não me traz esquecimento, ele faz questão de me manter alerta como um escoteiro.  Por um lado, isso é bom, por outro enche o saquinho de quem gosta de voar. Eu me sinto uma borboleta azul e meus vôos  não precisam de alucinógenos, se bem que sempre tive vontade  de experiências do tipo. Só que se eu der uma fumadinha na erva ou uma cheiradinha no pó, acho que ninguém nunca mais me acha. Deve ser muito bom esse barato, porque tem gente que está em ALFA desde muito e não pretende sair. Deve ser legal esquecer as responsabilidades e viajar pelas terras do sem fim, falar um monte de bobagens e se achar o máximo!   Sou usuária de uma substancia  incolor, inodora e que não se compra em qualquer bodega : vontade de viver intensamente o tempo que ainda tenho. Quem quiser que me critique e me chame de velha assanhada. Tudo bem , sou perua assumida e adoro tudo que brilha.    Perdi  muitos anos da minha vida lembrando de tudo e preocupada em manter tudo muito certinho. Hoje , eu estou pouco me lixando para essas coisas, “ Não importa se a mula manca, o que eu quero é rosetar”. Procuro fazer o que gosto e posso, porque também  não  virei “ mulher maravilha”,  pois  tenho  minhas  limitações claras e evidentes. Além de estar na  MELHOR IDADE, o corpo todo bichado, a própria ” Maria das Dores” , sou uma dura de carteirinha , sem um puto no bolso, mas feliz da vida.
                       Minha vida em família é engraçada. Na casa tem de tudo. Tem velho rabugento que de vez em quando incorpora um “Sargento Tainha” da vida que só dá ordens mas ninguém obedece, só estremece ; uma filha altamente intelectualizada e perfeccionista no que faz profissionalmente e desligada ao máximo, um adolescente que ainda não sabe se vai ou se fica e um garoto de 10 anos com cabeça de 80.  Faltou a minha descrição:  uma idosa com vontade de curtir o que gosta, mãe de todos e madrasta de vez em quando, cansada de ser dona de casa, irreverente, cheia de idéias mirabolantes e que esquece um monte de coisas por conveniência e se liga no que lhe faz bem. Agora , sou uma borboleta azul e tudo que quero é voar. Minha filosofia de vida é ser o que sou , sem máscara e falível, mas sem maldade.
                       A figura mais interessante da casa é o Henrique, o meu presente de aniversário que nos surpreende todos os dias com suas  observações de velho de 80 anos. Apesar de ter apenas dez anos , parece que já viveu mais do que todos nós.  Uma vez o avô gritou com ele porque não respondeu a uma pergunta que lhe fez , ficando calado. Chamei-o e falei que quando o avô perguntasse alguma coisa, prá ele responder. Aí ele me disse que não respondeu por que achou que fosse uma  PERGUNTA RETÓRICA.  Em outra oportunidade, eu estava de repouso por recomendação médica e ele foi deitar ao meu lado. Começou a conversar e me falou para ter um pouco mais de JUÍZO  e não fazer o que não devo. Disse-me que eu tinha que entender que a cada ano que passa eu perco 1% do meu juízo e que agora só me restam 32%, porque eu já perdi  68%.  Vê se pode ?   Numa outra ocasião, em conversa com a tia, minha filha mais nova, falando de não ter o pai presente, a tia prá consolá-lo disse que o filho dela também não tinha o dele, ao que  respondeu sem pestanejar :  - “ É , mas o Rafael já teve um monte de substitutos !”  Leila, ofendida retrucou:  - “ Você está me chamando de galinha?”  Ele se mete em tudo que é conversa de adulto e está sempre fazendo comentários do gênero!
                      No último Sábado, fomos todos a um centro espírita que freqüentamos e ele quis ir junto. Enquanto nós adultos fazíamos nossas preces e trabalhos, ele se juntava às outras crianças e brincava lá fora. Havia muita gente e depois que tudo terminou viemos embora e eu nem me  lembrei dele. Como a Leila veio  com o carro dela e trouxe parte do pessoal, não me preocupei.   Em casa, depois de determinado tempo, o irmão mais velho  perguntou :  - “ Vó , cadê o Henrique?”   Falei : - “ Não sei , ele não está aqui ?”  Aí é que nos demos conta de que esqueci o Henrique no Centro !!  Foi uma gargalhada só de todo mundo. Onde já se viu uma avó esquecer o neto?    Pegaram no meu pé e antes de tomarmos alguma providencia, chegou um nosso amigo com Henrique. Na hora de ir embora ele viu que tinha criança a mais com ele e constatou  meu estranho esquecimento. Fiquei completamente desacreditada e a partir de agora as mães vão ter muito cuidado porque não mereço mais a confiança delas.
                     Na realidade não estou preocupada em merecer confiança, porque já  perdi mesmo mais da metade do meu juízo, como falou o neto “ gênio”.  Já passei por tanta coisa que estou pouco preocupada se esqueci o neto e se descobri que o meu fiofó  agora se chama esfíncter e que ainda tenho que fazer  Strip tease   prá um monte de médico. Prá mim “ Tá tudo dominado” e esquecer um pouco até faz bem . Só não quero esquecer de sonhar e de viver!!!

Graça Peres, maio/2012

2 comentários:

  1. Mãe, vamos lembrar que após tentar consolar o velho de 80 anos, ele me veio com um "desculpe tia falei sem pensar e não queria dizer isso..." claro que eu e Júlio caimos na risada e eu virei a tia preferida já que a outra irmã é a Madrinha kkkk, esse menino é MARAVILHOSO e convivendo com alguém com tanta sede da vida e cheia de vida não poderia ser melhor!!!!!

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  2. kkkkkkkkkkkkk......Mãe, só você pra melhorar o meu dia!!!!...Hj "estava" tudo horrível até AGORA. Ler suas peripécias me fez dar umas boas gargalhadas, e com isso desanuviar um pouco...GRAÇAS A DEUS vc existe!!!!!!!

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