O TEMPO E A BIPOLARIDADE
Na minha terrinha querida, no meu Nordeste distante, o inverno é chuva e chuva é bem vinda, porque a terra seca vai ser molhada, trabalhada e plantada. A chuva é vida , segura o sertanejo na terra , faz florescer o mandacaru , enche as cisternas, os açudes, sacia a sede do gado, cobre o pasto de verde, faz o sabiá cantar com mais força, enche de esperança a região. É a benção do céu que se faz presente, é a promessa de dias melhores, de uma colheita certa, de um ano menos difícil, a certeza de que os rios se avolumem , se encham de peixes e sigam seus cursos a caminho do mar. A natureza sábia mostra o seu poder de restaurar aquilo que parecia perdido. Não depende do homem , a reabilitação da terra. Não depende do governo que não quer ver o flagelo da seca e que há anos dorme, enquanto o povo nordestino enfrenta as dificuldades de sempre. É de se lamentar que o próprio nordestino que chega ao poder não procure uma solução, quando todo mundo sabe que ela existe. Por que não aprender com Israel ? Falta de vontade política apenas. O sertanejo não quer esmola do governo e sim solução para que possa continuar na terra , produzindo e colaborando com o crescimento da região. A seca sempre foi um ótimo negócio político, essa a verdade nua e crua.
Enquanto a chuva não chega lá no sertão, castiga o Sudeste o ano inteiro. Como chove nessa terra ! Estou de saco cheio. Aqui no meu mato, onde me escondo há 26 anos, a umidade é intensa e a terra está sempre encharcada. As estações tão marcadas com datas, se misturam e fazem minha cabeça pirar. Na primavera, que deveria ser um tempo agradável, chove , faz frio e são poucos os dias de sol. O verão é um horror. Chove todo dia , e as tempestades são assustadoras com a sua exibição de relâmpagos, raios e trovões , sem esquecer as chuvas de granizo. Todo ano é um sofrimento para quem mora nas encostas ou tem que circular pelas ruas ,invariavelmente alagadas. O calor é insuportável, sem uma brisa que alivie. Agora , estamos no Outono, e o tempo ,prá variar, está chuvoso e frio. Na minha cabeça , já chegou o inverno. Não tem quem agüente essa instabilidade. Acho que o tempo aqui é “ bipolar “ como um monte de gente que conheço. Um dia , amanhece arreganhado, cheio de luz e alegria , no outro, se fecha e não tem acordo. Quando não chora, explode em trovões apavora. O tempo , fica por conta da natureza e não temos o que fazer. O indivíduo bipolar, que convive conosco e tem sua imprevisibilidade neurótica e insuportável, que se trate ou se isole, porque ninguém merece.
É isso mesmo. Uma comparação sem muito sentido, vez que comecei falando do tempo e entrei no terreno do comportamento humano. Ser “bipolar” é moderno e desculpa prá muita trampa que o ser humano faz por aí. Aqueles que se permitem a falta de educação, de autocontrole, lançam mão de uma doença , fazem os outros de trouxas e ainda acham bonito se identificar com a bipolaridade. Ambas as coisas, me deixam irritada e com vontade de procurar um lugar onde nada disso aconteça. Onde ? Não sei. Só sei que agüentar um tempo que não se faz acreditar e alguém que muda a cada instante são duas pedras no meu sapato. Quando a gente percorre uma longa estrada e chega no ocaso da vida , tendo que viver sem a certeza do que será o dia seguinte, só tem uma saída : virar uma borboleta azul e procurar uma estação favorável e a companhia de outras borboletas , escapando das bipolaridades que nos afligem .
O pior de tudo é que a gente faz um esforço enorme prá se melhorar, um exercício monstruoso para compreender e se debate em dúvidas. Por que não morar na praia, com um sol na cabeça e curtir o tempo que resta , fugindo da bipolaridade do tempo e das pessoas? Nem tudo é como queremos e a saída é se adaptar àquilo que temos. Enfim chegamos à conclusão que todos somos instáveis e difíceis como o tempo que nos obriga a mudar de roupa e de atitudes a toda hora. Quando o frio não açoita nosso corpo, se instala no nosso coração que é bipolar por excelência. O meu , coitado, não sabe se chora ou se dá risadas e dança conforme a música. Às vezes tenho uma valsa suave e linda que me leva aos vôos que adoro fazer, às vezes ouço um rock pauleira que me deixa a mil por hora, sem juízo e com vontade de correr. É muita confusão na cabeça de uma Maria Bonita que se atreveu a sair do seu chão e enfrentar o desconhecido !!!
Graça, maio/2012
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