sábado, 4 de fevereiro de 2012

Meus medos


Falar dos meus medos, é sem dúvida  alguma , encher um prato para qualquer  analista fazer um tratado. Talvez um tratado estranho,  visto que alguns dos meus medos  são um tanto bizarros.       Em  criança, me apavorava pensar em lombriga, aquele bichinho que mora dentro do  nosso intestino e que quando resolve sair, traz pânico, nojo, desespero. Eu tinha uns oito anos, mais ou menos, quando em uma ida ao banheiro para um cocozinho básico, descobri que alguma coisa ficara pendurada e minha reação foi a pior possível. Comecei a pular e gritar  e a bichinha não saia e assim, sujei todas as paredes do banheiro, fiz um escândalo do outro mundo e assustei  todos da casa que  desesperados ,arrombaram  a porta  e puxaram a maldita lombriga. Maldita lombriga! Quase morri de tanto  pavor ! Cena dantesca, vergonhosa,  que hoje depois de velha  me parece do outro mundo, porque, essas coisas não acontecem mais, pelo menos no meio de gente civilizada. O problema é que no muito antigamente, os remédios não eram tão eficazes como hoje  e a prevenção talvez não fosse muito eficiente. Papai tinha uma enorme preocupação com esse tipo de infestação e nos ministrava remédio  específico para o seu controle. Acontece que  eram insuportáveis e tínhamos que engolir cápsulas de uma substância que ao chegar no estomago, estouravam e tinham um gosto horrível. Nesse dia em que tomávamos o bendito purgante, ficávamos em jejum, à base de chá e torradas. Essa bomba, não tinha o poder de desmanchar os vermes e ainda havia o sofrimento de ter que expeli-los. O meu pavor era tão grande que eu dava um jeito de não ingerir as cápsulas que  aliás eram tantas quanto fosse a nossa idade. Na minha cabeça infantil, acho que eu preferia ficar com as bichinhas  dentro de mim. Não  me livrei desse pavor terrível e até hoje reluto em tomar um vermífugo, que além de ser uma dose única, um comprimidinho de nada, tem a ação de destruir os invasores, de forma que não tenhamos que vê-los. Hoje a gente nem se dá conta da sua existência, o que me deixa mais tranqüila. Mas o meu medo continua  ! Não com broto de feijão, nem que me matem... O que tem a ver?  Tem sim e eu é que sei  o susto que já levei !!!
                   Não é muito diferente o meu medo de cobra.  Também na infância, brincando com meu irmão de esconde- esconde, ele me chamou a atenção para uma peçonhenta que se arrastava pelo canto do muro, com certa dificuldade, porque tinha acabado de engolir um sapo. Virei estátua de sal diante daquela cena de horror e não consegui fugir dali. Meu irmão correu para pedir ajuda e meu pai veio e matou a danada. Era uma cobra enorme e estava ali pertinho de nós. Foi o suficiente para me fazer ter medo desse bicho, até hoje. Dependendo do lugar, olho até embaixo da  cama .  Não posso ver nem foto das maledetas , que me transtorno. Se  vou  no Zoológico, fujo do reduto delas. Tenho verdadeiro pavor e o irônico  de tudo isso é que já tive que conviver com “algumas cobras” e hoje prá completar moro no meio do mato, o que não me deixa esquecer esse medo.
                  Medo de altura, também é um sentimento que me destrói. Posso subir no prédio mais alto que houver, mas não consigo chegar perto de uma janela ou varanda. Aqueles prédios que tem  escadas , que deixam um vão à vista, me dão pavor e não tem nada que me faça olhar para baixo.Também tenho medo de escada rolante. A origem dessa fobia de altura remonta à infância também. Eu era pequena, não lembro a idade e num dia de carnaval, estava na frente de casa, olhando uma “La Ursa” que ia passando e todo mundo se divertindo, quando um homem que estava numa estrutura de concreto, dentro da Usina, por onde corria um guindaste que puxava a cana, desequilibrou e caiu na minha frente. A altura equivalia a um prédio de 4 a 5 andares. Foi uma cena que nunca esqueci e na hora chorei muito, fiquei muito nervosa e acho que carrego esse pavoroso espetáculo dentro de mim, o que às vezes me constrange quando tenho que enfrentar qualquer altura. Engraçado, que se a varanda ou a janela do andar mais alto em que eu esteja,  tiver a proteção de uma rede, me sinto um pouco segura.  O meu medo é tanto que traumatizo qualquer criança que estiver comigo. Não tenho medo de avião, apesar da altura. Viajo tranqüila e nunca me  perturbei . Claro que se tiver uma situação de perigo no meio de um vôo, sinto medo  mas  é diferente. Acho que é uma  reação normal.
               Medo de morrer, não  tenho. Já superei isso, mas tenho muito medo de perder minha razão e ficar dando trabalho às pessoas. Isso me apavora. Tenho muitos outros medos que me deixam  mal. Tenho fobia social que me faz pagar alguns micos e principalmente, o que é mais grave, tenho medo das pessoas, do julgamento delas,  até do pensamento violento do meu  semelhante. Tenho medo de magoar as pessoas sem querer, porque sei que sou uma pessoa às vezes agressiva e ríspida, sem  perceber , o que me deixa muito assustada. Infelizmente, cada um é o que é e por mais que nós nos trabalhemos e tentemos  melhorar, tem  sempre um dragão dentro de nós que às vezes foge ao controle e” caga fogo e mija faísca”. É, o negócio é muito complicado  mesmo !
               Tenho muito medo da minha  consciência , do meu auto julgamento e de saber que fiz mal a alguém. Não guardo rancor daqueles que me fizeram  mal , mas guardo lembranças que o tempo não consegue apagar. E tenho muito medo de carregar comigo esse sentimento que tira a paz do espírito.
               Mas o meu medo maior é pensar que se eu tiver que ir para o inferno, meu castigo seja ter que   pular de bungee jumping , num buraco cheio de LOMBRIGAS  e  COBRAS  e ainda ter que encontrar as peçonhentas conhecidas.


Graça,jan/2012

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