Falar dos meus medos, é sem dúvida alguma , encher um prato para qualquer analista fazer um tratado. Talvez um tratado estranho, visto que alguns dos meus medos são um tanto bizarros. Em criança, me apavorava pensar em lombriga, aquele bichinho que mora dentro do nosso intestino e que quando resolve sair, traz pânico, nojo, desespero. Eu tinha uns oito anos, mais ou menos, quando em uma ida ao banheiro para um cocozinho básico, descobri que alguma coisa ficara pendurada e minha reação foi a pior possível. Comecei a pular e gritar e a bichinha não saia e assim, sujei todas as paredes do banheiro, fiz um escândalo do outro mundo e assustei todos da casa que desesperados ,arrombaram a porta e puxaram a maldita lombriga. Maldita lombriga! Quase morri de tanto pavor ! Cena dantesca, vergonhosa, que hoje depois de velha me parece do outro mundo, porque, essas coisas não acontecem mais, pelo menos no meio de gente civilizada. O problema é que no muito antigamente, os remédios não eram tão eficazes como hoje e a prevenção talvez não fosse muito eficiente. Papai tinha uma enorme preocupação com esse tipo de infestação e nos ministrava remédio específico para o seu controle. Acontece que eram insuportáveis e tínhamos que engolir cápsulas de uma substância que ao chegar no estomago, estouravam e tinham um gosto horrível. Nesse dia em que tomávamos o bendito purgante, ficávamos em jejum, à base de chá e torradas. Essa bomba, não tinha o poder de desmanchar os vermes e ainda havia o sofrimento de ter que expeli-los. O meu pavor era tão grande que eu dava um jeito de não ingerir as cápsulas que aliás eram tantas quanto fosse a nossa idade. Na minha cabeça infantil, acho que eu preferia ficar com as bichinhas dentro de mim. Não me livrei desse pavor terrível e até hoje reluto em tomar um vermífugo, que além de ser uma dose única, um comprimidinho de nada, tem a ação de destruir os invasores, de forma que não tenhamos que vê-los. Hoje a gente nem se dá conta da sua existência, o que me deixa mais tranqüila. Mas o meu medo continua ! Não com broto de feijão, nem que me matem... O que tem a ver? Tem sim e eu é que sei o susto que já levei !!!
Não é muito diferente o meu medo de cobra. Também na infância, brincando com meu irmão de esconde- esconde, ele me chamou a atenção para uma peçonhenta que se arrastava pelo canto do muro, com certa dificuldade, porque tinha acabado de engolir um sapo. Virei estátua de sal diante daquela cena de horror e não consegui fugir dali. Meu irmão correu para pedir ajuda e meu pai veio e matou a danada. Era uma cobra enorme e estava ali pertinho de nós. Foi o suficiente para me fazer ter medo desse bicho, até hoje. Dependendo do lugar, olho até embaixo da cama . Não posso ver nem foto das maledetas , que me transtorno. Se vou no Zoológico, fujo do reduto delas. Tenho verdadeiro pavor e o irônico de tudo isso é que já tive que conviver com “algumas cobras” e hoje prá completar moro no meio do mato, o que não me deixa esquecer esse medo.
Medo de altura, também é um sentimento que me destrói. Posso subir no prédio mais alto que houver, mas não consigo chegar perto de uma janela ou varanda. Aqueles prédios que tem escadas , que deixam um vão à vista, me dão pavor e não tem nada que me faça olhar para baixo.Também tenho medo de escada rolante. A origem dessa fobia de altura remonta à infância também. Eu era pequena, não lembro a idade e num dia de carnaval, estava na frente de casa, olhando uma “La Ursa” que ia passando e todo mundo se divertindo, quando um homem que estava numa estrutura de concreto, dentro da Usina, por onde corria um guindaste que puxava a cana, desequilibrou e caiu na minha frente. A altura equivalia a um prédio de 4 a 5 andares. Foi uma cena que nunca esqueci e na hora chorei muito, fiquei muito nervosa e acho que carrego esse pavoroso espetáculo dentro de mim, o que às vezes me constrange quando tenho que enfrentar qualquer altura. Engraçado, que se a varanda ou a janela do andar mais alto em que eu esteja, tiver a proteção de uma rede, me sinto um pouco segura. O meu medo é tanto que traumatizo qualquer criança que estiver comigo. Não tenho medo de avião, apesar da altura. Viajo tranqüila e nunca me perturbei . Claro que se tiver uma situação de perigo no meio de um vôo, sinto medo mas é diferente. Acho que é uma reação normal.
Medo de morrer, não tenho. Já superei isso, mas tenho muito medo de perder minha razão e ficar dando trabalho às pessoas. Isso me apavora. Tenho muitos outros medos que me deixam mal. Tenho fobia social que me faz pagar alguns micos e principalmente, o que é mais grave, tenho medo das pessoas, do julgamento delas, até do pensamento violento do meu semelhante. Tenho medo de magoar as pessoas sem querer, porque sei que sou uma pessoa às vezes agressiva e ríspida, sem perceber , o que me deixa muito assustada. Infelizmente, cada um é o que é e por mais que nós nos trabalhemos e tentemos melhorar, tem sempre um dragão dentro de nós que às vezes foge ao controle e” caga fogo e mija faísca”. É, o negócio é muito complicado mesmo !
Tenho muito medo da minha consciência , do meu auto julgamento e de saber que fiz mal a alguém. Não guardo rancor daqueles que me fizeram mal , mas guardo lembranças que o tempo não consegue apagar. E tenho muito medo de carregar comigo esse sentimento que tira a paz do espírito.
Mas o meu medo maior é pensar que se eu tiver que ir para o inferno, meu castigo seja ter que pular de bungee jumping , num buraco cheio de LOMBRIGAS e COBRAS e ainda ter que encontrar as peçonhentas conhecidas.
Graça,jan/2012
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