sábado, 10 de dezembro de 2011

Contagem Regressiva 16 dias para o Natal ( Minhas memórias) 08/12/2011

               Quanto mais se aproxima, mais se faz presente o Natal, tornando as crianças mais excitadas pela espera do Papai Noel e os adultos mais empenhados em realizar as suas fantasias .                                   São Paulo se transformou num verdadeiro cartão postal, uma exposição artistica do maior bom gosto e de muita criatividade.  Nos finais de tarde, corais com formações diversas, se exibem nas estações do Metrô e terminais de ônibus, com suas canções natalinas, para deleite dos paulistanos apressados, humanizando a gigantesca  " selva de concreto". É  o Natal ao alcance de todos !
               Toda essa cantoria me faz lembrar o nosso tradicional Pastoril do Nordeste, hoje menos encontrado, talvez substituído pelas manifestações mais modernas e importadas de homenagens natalinas.
Antigamente, o Pastoril  era uma festa de todo ano, com  formação principalmente de meninas que se apresentavam com suas roupas de pastoras ,dançando e cantando em dois cordões : o Encarnado (vermelho) e o Azul. O cordão Azul tinha à frentre a Contra-Mestra  e o Encarnado, a Mestra. No meio vinha a Diana, que era neutra. As três cantavam cantigas referentes às suas posições e as outras pastoras, dançavam e  cantavam em grupo e com seus pandeiros acompanhavam o rítmo . Além das pastoras havia a borboleta e a figura masculina de um pastor. As pessoas participavam ativamente com torcidas organizadas e comprando votos para elegerem um partido. Eram várias as apresentações, sempre muito alegres e vibrantes.
                No Pastoril da Usina, nunca tive chance de aparecer muito, porque as melhores posições eram dadas às filhas da diretora do Grupo Escolar, a organizadora da festa. Eu morria de vontade de ser a Mestra, Contra-Mestra , a Diana ou até mesmo a Borboleta, mas nunca cheguei lá. Comecei a achar que certamente , eu era sem graça, porque nunca tinha oportunidade nem mesmo nas peças infantis que a Dona Alcina ( a diretora da escola) promovia. Eu´só conseguia ser no máximo uma figurante sem fala e não sobrava prá mim, sequer o papel do" Lobo Mau," do Chapeuzinho Vermelho ou mesmo a "Bruxa Malvada" da Branca de Neve. Que sofrimento, o meu! Mas, paciência; o negócio era participar, mesmo que fosse com um papel insignificante. E um dia , a grande oportunidade veio! Qual não foi a minha surpresa, quando as freiras do Colégio de Serinhaém ( cidade vizinha da Usina), me convidaram para participar do seu Pastoril ? Dessa vez, seria a 2a do cordão Azul. Não seria " protagonista " mas pelo menos " coadjuvante ". E depois só eu fui convidada na Usina . Era a glória !!!  Fiquei felicíssima e todos em casa também. Foram várias apresentações no palco do cinema da Usina, com a presença de toda sociedade local. Meus dias de estrelato, foram maravilhosos, ainda mais com a vitória do meu partido Azul.
             Os preparitivos para minhas apresentações artísticas, me faziam chorar muito. Mamãe não gostava de cabelos escorridos, como dizia ela, e insistia em encrespar os meus ,que já eram um tanto ou quanto armados.Ela enrolava meus cabelos com um lápis, fazendo cachinhos e prendendo com biliros ( grampos) e quando eram tirados na hora de me arrumar ,eu ficava com um belo " black power" grande e cacheado. Odiava isso , mas Mamãe achava lindo. O importante prá mim era estar no palco, vestida de pastora , de pandeiro na mão. Não tinha que cantar sòzinha e esse era o ponto: Deus não me deu voz e acho que por causa desse detalhe, era discriminada por Dona Alcina, que aliás tentou a pedido de mamãe, me ensinar a tocar piano e logo me dispensou porque eu queria mesmo era brincar com as filhas dela. Mais uma frustração que carrego comigo :  nem voz nem piano !!!
              Meus talentos eram outros : era a mentirosa do pedaço e adorava me meter nas conversas de Mamãe e de Lia com as amigas. Ninguém podia falar nada na minha frente que logo eu divulgava e por isso me chamavam de " Reporter Esso" . Lia odiava me levar para os passeios dela e eu, por minha vez, odiava andar  com Luiza atrás de mim com a roupa sempre igual à minha. A diferença de idade entre nós duas era de quase 5 anos o que me deixava numa posição muito chata diante das minhas amigas. Afinal , eu era "grande" e ela , quase um  bebê que eu tinha que cuidar.Mamãe dizia que quando eu me juntava com minhas " pareceiras", como ela se referia às minhas amigas, ficava insuportável ! Acho que ela tinha razão, eu era muito danada mesmo, ainda mais por tido como companhia, quatro diabinhos que aprontavam muito comigo.
Como eu era menina, não tinha vez com eles, a não ser quando interessava exercer o meu insignificante papel de " mulher".
             Quantas lembranças e quanta saudade ! Quanto mais eu lembro mais , mais vontade tenho de voltar no tempo e reviver nossa infância no mundo encantado da querida e distante Usina Trapiche!

Um comentário:

  1. Mãe, vc está cada dia mais impossível!!!!!....Cabelo "Black Power" foi ótimo....kkkk....hj eu chorei de rir, literalmente!!!!....muito bom!!!!

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