sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Medicina caseira.....

Contribuição de Valério Peres

Graça você falou de papai "médico" e eu lembrei um causo.
Um belo dia papai chamou a gente para ir com ele ao almoxarifado da Usina atras de uma chumbada para colocar em sua vara de pescar. Lembro que nessa época ele estava tirando as férias de seu Abelardo que era o almoxarife. Prá nós garotos o enorme almoxarifado era um mundo encantado onde você podia encontrar tudo que alguém podia imaginar para o perfeito funcionamento da Usina. O que me maravilhou mais foi uma fileira imensa de caixas, presas na parede e ligadas umas nas outras, cheias de pregos de todos os tamanhos e espessuras, parafusos, porcas e não sei mais o que. Eu sei que peguei um preguinho, friosinho, gostosinho, e coloquei na boca. Papai viu e reclamou comigo dizendo que eu podia engolir o dito prego. - Nada pai eu vou colocar no lugar, disse eu pensando - será que papai pensa que sou doido pra engolir um prego !? - . No mesmo instante - por artes do diabo - Carlos com suas brincadeiras alopradas, veio correndo e esbarrou em mim com toda força. - Não deu outra: engoli o raio do prego... E aí, meu irmão, começou meu sofrimento: fui levado pra farmácia onde o farmacêutico, - não recordo seu nome - me fez um medo desgraçado dizendo que eu podia morrer e disse a papai: - Abel, levar pra Recife nem pensar; é uma longa viagem e com os sacolejos do ônibus esse prego pode provocar uma hemorragia e aí... Você vai fazer o seguinte: compre umas dez laranjas, um pacote de algodão e leve esse remédio Sal amargo, que é muito bom - muito tempo depois soube que era um remédio usado para curar cólica de cavalo - . Tire a casca das laranjas e dê a ele apenas a pele. Depois que ele comer toda a pele faça ele comer o pacote de algodão e finalmente prepare uma solução do Sal amargo num copo grande e dê a ele pra beber. Mano, o que o medo de morrer num faz...! Pense numa sensação horrorosa e num gosto desgraçado.... Fiquei sem saber se vomitava, ia no banheiro, se saia correndo pelo quintal ou se morria mesmo de agonia e enjoo. Nunca fui tão paparicado quando ia ao banheiro! Ainda lembro do desespero de mamãe diante de minhas sucessivas negativas. Durante anos guardei o trauma e o gosto do Sal amargo com pele de laranja e algodão; mas devo reconhecer que foi um santo remédio: no outro dia o diabo do prego saiu, bonitinho e enrolado no algodão. Mamãe pagou uma de suas promessas mais caras e eu nunca mais botei prego na boca. Anos depois um garoto, Biu que morava conosco e tinha tirado o maior sarro com a minha desdita fez a mesma trela: engoliu um parafuso e eu me vinguei com gosto: fiz ele comer as peles de umas 20 laranjas e dois pacotes de algodão com dois copos de Sal amargo. O cabra escapou e botou o danado do parafuzo...kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk


Já que lembramos os nomes do pessoal da farmácia, o negócio era o seguinte : Amaro Ramos era o farmaceutico e vem antes; Moacir e Amarozinho eram os enfermeiros. Isso quando ainda éramos muito pequenos. Amaro Ramos era casado com Marieta e ,tinha um monte de filhos ,entre eles Ramon que se tornou jogador de futebol, quando rapaz. Eles moravam na Rua da Gaveta e depois se mudaram para a casa vizinha de Dr pedro. Moacir era nosso compadre várias vezes.Batizamos alguns de seus muitos filhos. Eu sempre era madrinha de apresentar e, os meninos toda vez que passavam na frente de nossa casa, gritavam : " bença minha madrinha !" Eles moravam lá naquela rua depois da casa grande, perto de Jorge e de Seu Augusto. Amarozinho, fazia nossos curativos e e aplicava as antitetânica que nós mesmos nos receitavamos. Ele era bem magrinho e noivo. Morava na Rua da Linha.
Seu Cecílio veio depois que Dr. Pedro já não estava mais na Usina. Ele era um negro alto e muito preparado, muito educado e amigo nosso. Morava numa casa perto da do gerente do armazem e tinha vários filhos, entre eles um que tinha vitiligo, o que me despertava muita curiosidade. Seu Cecílio era muito falante,elegante até ,e uma das poucas pessoas do lugar, que tinha um carro, chamado de " FOFOCA" por ele.
Papai gostava de conversar com ele e por isso sempre aparecia lá em casa.
Certa vez, eu tinha uns 13 anos mais ou menos e como ia haver uma festa em Sirinhaém, estávamos eu e Lia no maior fogo para ir até a Cidade vizinha. Seu Cecílio apareceu lá em casa e nos convidou para ir com ele. Ficamos na maior euforia e pedimos a Papai para que nos deixasse ir, no que ele logo colocou mil empecilhos, entre os quais, como iríamos ,se não havia condução para isso. Eu, muito tonta,
" ignorante de pai e mãe" , argumentei com a maior ênfase : - " A gente vai na XOXOTA de Seu Cecílio ! Deixa papai... Seu Cecilio chamou a gente prá ir na XOXOTA dele !!!" Papai me olhava, fazia gestos e eu não entendia nada. Mamãe ficou roxa de vergonha e o Seu Cecilio muito sem graça se despediu e foi embora sem nós duas.
Depois do ocorrido, Mamãe, cheia de dedos, me chamou de lado e me explicou direitinho a besteira que eu havia feito e depois dessa, morria de vergonha de encarar o Seu Cecilio, dono da FOFOCA.

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